domingo, 9 de janeiro de 2011

...

Estavam a subir os degraus e Mateus notou que Rita esperava-os à janela. Assim que os avistou, foi a correr para a porta feita de alumínio e abriu num ápice que até o pai ficou um pouco espantado.
“Finalmente pai...”
“O raio d’esta chuva. Não faz más nada s’não chover. Uma pessoa quer trabalhar e nem isso pode. Raios!”
“Ò pai! Deixa lá...”, disse a Rita enquanto o reconfortava com um abraço.
A sua casa, como seria de esperar, tanto por dentro, como por fora, era bastante humilde e acolhedora. Sem grande riquezas nem luxos. Era pintada de branco como todas as outras, mas tinha a pequena extravagância de ter uma grande varanda virada para o mar, onde se avistava uma esplêndida vista marcada pelo azul do mar e pelo verde da vegetação. A casa ficava praticamente num alto, sendo assim a casa mais alta das redondezas. Muitas das entradas do novo ano eram feitas nessa varanda com alguns dos seus vizinhos mais próximos, onde avistavam e maravilhavam os arranhões coloridos feitos no céu pelo fogo de artificio lançado à meia-noite do meio da vila. Era um fantástico espectáculo pirotécnico que deixava o Mateus e Rita espantados, e os pais (Júlio e ...) agarrados um ao outro, a desejarem um Feliz e Próspero Ano Novo. Mas desde que (...) morrera, nada disso se voltou a acontecer. Chegando perto das badaladas da meia-noite, Júlio manda as crianças vestirem o pijama para se deitarem, enquanto ele prepara a garrafa de bebida para se embriagar enquanto observa atentamente todos os traços e linhas que marcam o rosto da sua amada, numa fotografia que já tinha mais idade do que todos os seus dedos das mãos juntos.
Mateus chegou a pensar se, na realidade, aquele dia, que todos dizem ser o primeiro dia do ano, no final de contas, não acaba por ser um dia como os outros 364... Estava com o pensamento completamente cerrado nesta ideia, quando deu por si a dar um pulo na cama. Era já o sino que dava o sinal da entrada do novo ano.
“Será que vai ser um ano como todos estes que passei sem a minha amada mãe?”, pensou com os olhos cerrados de tanta a força que fazia para não derramar uma única lágrima que podia estilhaçar a barreira que o separava do passado fazendo com que todas as memórias, boas ou más se avivassem na sua memória. Tinha que fazer algo que pudesse fortificar essa barreira e simplesmente deixar que essas memórias tenham o descanso que bem merecem. Mas o que poderia fazer? O que poderia fazer para que esta hemorragia constante estancasse?
“Tenho que descobrir quem foi o responsável pelo acidente que tirou a vida à minha mãe!”. Não tinha em mente quais poderiam ser as consequências, o que teria que fazer para poder resolver este paradigma. Apenas tinha em mente que o tinha que resolver, para o bem da Rita, para o bem do seu pai, para o seu próprio bem.
“A mãe merece que tudo isto seja resolvido. Merece descansar em paz...”
“Trelim-Trelim-Trelim-TAC!”, Mateus acordou de forma espontânea dos seus pensamentos. Associou vagamente o som a um copo a bater no chão e a partir em mil e um cacos. Deu um salto da cama, nem calçou as pantufas, apenas correu numa cavalgada até à porta do seu quarto singular, abriu-a, meteu a cabeça ao lado de fora da porta, olhou para o seu lado esquerdo onde se encontrava a porta do quarto de sua irmã, que se encontrava fechada, da mesma forma como se encontrava a porta do quarto do seu pai, que era mesmo em frente. Olhou para o seu lado esquerdo, de onde avistava uma ponta do sofá da sua sala e ainda um pouco da bancada da cozinha, quando repara num líquido reluzente espalhado no chão, junto à ponta do sofá. Mateus foi à entrada da sala, quando vê o seu pai estendido no meio da sala com espuma a sair pela boca e com os olhos revirando - estava a ter um ataque.