tag:blogger.com,1999:blog-60936376097993515452024-02-08T07:35:23.165-08:00Passado Fechado a CadeadoManel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.comBlogger5125tag:blogger.com,1999:blog-6093637609799351545.post-85425469503947569492012-03-22T19:45:00.003-07:002012-03-22T19:45:58.388-07:00...“Oxalá ela na tenha ligado àquilo que minha irmã disse... Que raiva...”<br />
“Reparado no quê?”, disse a dona Ermelinda que estava a entrar no quarto de Mateus.<br />
“Ah...Era se doutora tinha reparado qu’eu ontem não tinha comido nada durante todo o dia.”<br />
“Oh Mateus! Tu sabes que isso só te faz mal!”<br />
“Mas s’na tinha fome cma queria q’eu fizesse?”<br />
Dito isto saiu de rompante do quarto procurando uma saída do edifício. Enquanto procurava a saída, só lhe cheirava a hospital, a remédio, a doença. Tudo aquilo que ele menos menosprezava, então especialmente ver pessoas a sofrer como uma que notou que estava num quarto amarrada enquanto meia – dúzia de enfermeiros o tentavam segurar para que o doutor administrasse uma injecção. Essa imagem ficou-lhe cravada no seu olhar enquanto procurava fervorosamente a saída. Não a encontrando, teve que abordar uma funcionária e lá, finalmente, consegui soltar aquele ar doloroso enquanto explorava com os olhos aquele ambiente que circundava o hospital. Existia um longo jardim cheio de árvores de folha caduca, que naquela altura estavam verdejantes, protegendo aqueles que se refugiavam debaixo delas do sol abrasador que se fazia sentir naquela tarde de Julho.<br />
“Não te apetece um sumo Mateus?”<br />
Mateus olhou desconfiado. Era Helena com um sorriso simpático. Por breves momentos parecia parvo, pois não sabia que responder.<br />
“Vamos, o bar é aqui mesmo ao lado”<br />
Deu a mão à Helena e simplesmente deixou-se ser guiado. Deram a volta ao hospital por um passeio que os fazia passar entre as árvores altas com casca acastanhada. Eram carvalhos carregados de bolotas, de onde se ouvia o chilrear de vários bandos de pássaros – era a natureza a falar por si própria.<br />
Estava poucos pessoas na esplanada do bar. Sentou-se, mas não se sentiu muito confortável pois eram de alumínio, mas lá se reconfortou.<br />
“Qual é o sumo que queres?”<br />
“Nã sei... Pode ser um qualquer...”<br />
Helena foi até ao bar e pede uma Coca – Cola, generalizando que todos os miúdos da idade de Mateus gostam deste tipo de refrigerante, enquanto que ele a via se afastar. Não conseguia retirar os olhos do seu corpo bastante definido, principalmente as suas ancas encurvadas que se vincavam com facilidade na bata de doutor que Helena usava. Cenários pouco próprios para a sua idade vagueavam na sua mente aparentemente inocente onde tentava dispersá-los pensando nas tardes passadas a deambular pelo campo junto com os seus animais enquanto procurava trevos de quatro folhas, guardando-os no bolso para mostrar a Rita e gabar-se, tal como seu pai faz diante dos seus amigos nas tascas. Começando a divergir para o passado menos feliz, Mateus abanou a cabeça como forma de se dispersar de pensamentos negativos.<br />
“Aqui tens. Trouxe Coca – Cola.”<br />
O jovem enche a boca de refrigerante e engole de uma só vez começando a tossir como se tivesse ficado afogado.<br />
“Estás bem Mateus?”, perguntou Helena assustada e preocupada com aquela tosse de agonia.<br />
“Chica, isto arde na garganta que se farta”<br />
“Nunca bebeste Coca-Cola?”<br />
Acalmada a tosse responde com ar de confuso – “Não, senhora”.<br />
Helena não sabia o que dizer nem o que perguntar.<br />
“Como tem corrido a escola?”<br />
“Não tenho ido.”<br />
“Então porquê?” <br />
“Tenho tido muita coisa pra fazer no campo.” <br />
“Mas mesmo assim, sabes que ir à escola é muito importante na tua idade, não sabes?”<br />
Mateus cabisbaixo simplesmente mantêm-se calado sem dar a sua opinião à questão colocada.<br />
“Bem é melhor irmos para dentro. O tempo já está a arrefecer um pouco e ainda apanhas umas constipação.”<br />
Lá voltaram pelo mesmo caminho que tinham antes feito.<br />
“Helena? Para onde vai agora?”<br />
“Vou agora te deixar no quarto do teu pai. A tua irmão deve estar lá preocupada contigo e eu acho que queres descansar um pouco.”<br />
A caminho do quarto Mateus olhou para um recorte de jornal antigo que estava pousado sobre uma das mesas da sala de espera, e notou em palavras grandes e gordas “Acidente tira vida a jovem mulher.”. Mateus sorrateiro aproximou-se da mesa, sem Helena se aperceber, apanhou o recorte, dobrou-o e meteu-o por dentro das calças, tapando com a sua camisola.<br />
Chegando perto do quarto onde seu pai estava, Mateus apercebe-se que estava um autêntico caos. Enfermeiros entravam e saiam em rompante impedindo quem quer que fosse de visitas de entrar no quarto enquanto ouvia um choro de agonia de uma criança – era Rita.<br />
“Desculpe?! Que está a passar?!”<br />
Ninguém lhe respondia. Parecia que estava a entrar num pesadelo. Espreitou pela porta e viu o seu pai a revoltar-se na cama enquanto vários enfermeiros o tentavam segurar.<br />
Mateus correu para junto de sua irmã e abraçou-a enquanto aconchegava a sua cabeça com festas.<br />
“Vai correr tudo bem. Vai passar tudo num instante.”Manel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6093637609799351545.post-16207856395849884132011-03-30T03:49:00.001-07:002011-03-31T06:22:27.692-07:00...O banco era frio e bastante desconfortável e Mateus apenas trazia consigo vestido a sua camisola de flanela, por isso, constantemente, batia dentes, procurando encontrar fontes de calor ou apenas uma forma de não estar a bater dentes. <br />
“O menino não quer ir dormir para uma das camas aqui do hospital para poder estar um pouco mais confortável, sem estar a passar frio?”. Mateus não reconheceu a voz, mas achou melhor voltar a cara e dar uma resposta, só por uma questão de boa educação, isto porque, por ele, de acordo com o seu normal estado de espírito, mandava essa pessoa para muitos sítios, e nenhum deles era agradável.<br />
“Não, obrigado m...”, nem acabou a frase. Ficou feito parvo a olhar para a senhora que lhe estava a propor aquela ideia. Ficou plenamente vidrado como se estivesse colocado pause naquele momento. A senhora, que provavelmente estava na casa dos 30 anos, apresentava o ar de uma menina de 18, talvez 19 anos. Grande parte dessa aparente juventude provinha do brilho rejuvenescedor dos olhos azuis água que ela tinha. <br />
“Menino! Está tudo bem? Diga-me qualquer coisa!”<br />
“Desculpe, como’stá meu pai?”<br />
“Neste momento está estável, mas o AVC foi muito forte e deverá permanecer alguns dias aqui no hospital sob vigilância.”<br />
“Um AV quê?”<br />
“Um AVC – Ataque Vascular Cerebral, ou seja, houve uma veia no cérebro que rebentou, porque estava obstruída e existia uma elevada pressão do sangue. Daí ter rebentado...”<br />
“Oh...”, Mateus não compreendia exactamente aqueles vocábulos técnicos. Apenas se limitava abanar a cabeça e a dizer “Sim”. A única coisa que estava ciente era que o seu pai estava realmente mal. <br />
Chamava-se Helena. Tirou a licenciatura em enfermagem contra a sua vontade. Seus pais sempre a influenciaram a ir para a área da medicina, pelo facto de afirmarem ser um “emprego com futuro”. Sempre teve o desejo de seguir pintura, isto porque sua avó ofereceu-lhe, num Natal, um conjunto de guaches e pincéis para ela aprender a pintar. Infelizmente, Helena nunca teve muitas oportunidades para visitar sua avó, porque, pouco tempo depois desse Natal, ela faleceu após um violento AVC. O mesmo que estava atacando o pai de Mateus.<br />
Helena foi até à arrecadação procurar um cobertor para Mateus, enquanto este se aconchegava na cama. Era igual às outras, dura e muito pouco confortável, por isso, encontrava muitas dificuldades em se adaptar àquele novo ninho. <br />
“Pronto, aqui tens o cobertor. Trouxe mais uma almofada no caso dessa não ser suficiente.”<br />
“Obrigado senhora...”<br />
“Vá, vê se descansas que amanhã é um novo dia.”<br />
<br />
<br />
Passou a noite em branco. Sempre mirando o tecto com um olhar vazio. Sempre com a ideia do que poderia acontecer ao seu pai, mas a imagem de Helena, ou melhor, a imagem dos seus olhos azuis água e com o cheiro perfumado de coco. Até parecia que a fonte do perfume estava a escassos centímetros do seu nariz.<br />
“Mateus!”<br />
“Helena!”, respondeu Mateus num ápice sem olhar para quem o chamou, mesmo não sabendo quem o estava chamando.<br />
“De quem é que estás a falar?”, era Rita com a vizinha Ermelinda. Estava um pouco espantada, porque esperava todos os nomes menos aquele.<br />
“Mateus, quem é essa Helena?”<br />
“Nada, nada. O nome vei’me assim de repente à cabeça.”<br />
“Conta lá!”<br />
“Ome não é ninguém! Raio de rapariga!, já em tom de exaustão, como quem já não podia estar a ouvir sempre a mesma tecla a tocar.<br />
“Mateus! Vê lá como falas com a tua irmã...”, respondeu Helena, que apareceu sorrateiramente à porta para ver o que se passava. Ouvido isto, Mateus colocou-se quase que em sentido. Parecia uma autêntica cana de bambu, praticamente só mexia os olhos. Rita ficou a observar com um olhar de desconfiado perante aquele comportamento de Mateus.<br />
“Desculpe, quem é a senhora?”, perguntou Rita enquanto olhava com um olhar de desafio para Mateus.<br />
“Sou a enfermeira Helena, muito prazer.”, dito isto Rita reparou que Mateus ficara corado como os tomates que costumavam a apanhar pela altura do verão. <br />
Para contrariar o ambiente em que Rita o gozava dando risadas discretas e de Helena não estar a perceber praticamente nada do que se estava a passar, fitou, muito seriamente a enfermeira.<br />
“Já sabe mais alguma coisa de meu pai?”<br />
“Por enquanto está estável, mas é melhor ele permanecer aqui sob vigia.”Manel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6093637609799351545.post-80577215640093637162011-01-09T14:42:00.001-08:002011-01-09T14:58:44.002-08:00...Estavam a subir os degraus e Mateus notou que Rita esperava-os à janela. Assim que os avistou, foi a correr para a porta feita de alumínio e abriu num ápice que até o pai ficou um pouco espantado.<br />
“Finalmente pai...”<br />
“O raio d’esta chuva. Não faz más nada s’não chover. Uma pessoa quer trabalhar e nem isso pode. Raios!”<br />
“Ò pai! Deixa lá...”, disse a Rita enquanto o reconfortava com um abraço.<br />
A sua casa, como seria de esperar, tanto por dentro, como por fora, era bastante humilde e acolhedora. Sem grande riquezas nem luxos. Era pintada de branco como todas as outras, mas tinha a pequena extravagância de ter uma grande varanda virada para o mar, onde se avistava uma esplêndida vista marcada pelo azul do mar e pelo verde da vegetação. A casa ficava praticamente num alto, sendo assim a casa mais alta das redondezas. Muitas das entradas do novo ano eram feitas nessa varanda com alguns dos seus vizinhos mais próximos, onde avistavam e maravilhavam os arranhões coloridos feitos no céu pelo fogo de artificio lançado à meia-noite do meio da vila. Era um fantástico espectáculo pirotécnico que deixava o Mateus e Rita espantados, e os pais (Júlio e ...) agarrados um ao outro, a desejarem um Feliz e Próspero Ano Novo. Mas desde que (...) morrera, nada disso se voltou a acontecer. Chegando perto das badaladas da meia-noite, Júlio manda as crianças vestirem o pijama para se deitarem, enquanto ele prepara a garrafa de bebida para se embriagar enquanto observa atentamente todos os traços e linhas que marcam o rosto da sua amada, numa fotografia que já tinha mais idade do que todos os seus dedos das mãos juntos. <br />
Mateus chegou a pensar se, na realidade, aquele dia, que todos dizem ser o primeiro dia do ano, no final de contas, não acaba por ser um dia como os outros 364... Estava com o pensamento completamente cerrado nesta ideia, quando deu por si a dar um pulo na cama. Era já o sino que dava o sinal da entrada do novo ano. <br />
“Será que vai ser um ano como todos estes que passei sem a minha amada mãe?”, pensou com os olhos cerrados de tanta a força que fazia para não derramar uma única lágrima que podia estilhaçar a barreira que o separava do passado fazendo com que todas as memórias, boas ou más se avivassem na sua memória. Tinha que fazer algo que pudesse fortificar essa barreira e simplesmente deixar que essas memórias tenham o descanso que bem merecem. Mas o que poderia fazer? O que poderia fazer para que esta hemorragia constante estancasse?<br />
“Tenho que descobrir quem foi o responsável pelo acidente que tirou a vida à minha mãe!”. Não tinha em mente quais poderiam ser as consequências, o que teria que fazer para poder resolver este paradigma. Apenas tinha em mente que o tinha que resolver, para o bem da Rita, para o bem do seu pai, para o seu próprio bem. <br />
“A mãe merece que tudo isto seja resolvido. Merece descansar em paz...”<br />
“Trelim-Trelim-Trelim-TAC!”, Mateus acordou de forma espontânea dos seus pensamentos. Associou vagamente o som a um copo a bater no chão e a partir em mil e um cacos. Deu um salto da cama, nem calçou as pantufas, apenas correu numa cavalgada até à porta do seu quarto singular, abriu-a, meteu a cabeça ao lado de fora da porta, olhou para o seu lado esquerdo onde se encontrava a porta do quarto de sua irmã, que se encontrava fechada, da mesma forma como se encontrava a porta do quarto do seu pai, que era mesmo em frente. Olhou para o seu lado esquerdo, de onde avistava uma ponta do sofá da sua sala e ainda um pouco da bancada da cozinha, quando repara num líquido reluzente espalhado no chão, junto à ponta do sofá. Mateus foi à entrada da sala, quando vê o seu pai estendido no meio da sala com espuma a sair pela boca e com os olhos revirando - estava a ter um ataque.Manel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6093637609799351545.post-2924539217604690452010-12-23T17:39:00.001-08:002010-12-23T17:42:22.306-08:00...<div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ao contrário de Mateus, Rita era uma rapariga exemplar. Muito calma, pouco falava, mas quando falava dizia palavras sábias de mais para a idade que tinha, pondo até os mais velhos estupefactos. <o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Aí lá eles começavam a tricotar que era a cara chapada a mãe: inteligente e linda, de onde se destacava o seu sorriso contagiante, chegando a por a sorrir o Joaquim, o homem mais carrancudo lá da freguesia. Rapidamente se esqueciam dos problemas estando ela por perto. Era um autêntico anjo com os seus cabelos louros e com os seus olhos azuis brilhantes. Olhos estes que saíram ao seu pai.<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Oh Mateus! Que estás a fazer aí deitado no chão?”, apareceu ela a correr e a olhar muito pasmada para o Mateus.<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Ome, tropecei aqui na raiz de uma roca... Quié que aconteceu?”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“O pai já está fulo sem saber por onde andas.”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Fogo, já vou, já vou!”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Era praticamente de noite quando os dois estavam a chegar a casa. Estava um tempo meio <b>melindroso</b>, com a aparência de que estava para vir mau tempo. Ao longe já se avistava, a partir da varanda da casa, nuvens negras vindas do mar a aproximarem-se para a terra. Júlio, vendo este mau presságio a aproximar-se, decide ir rapidamente colher a roupa que estava a secar na linha pedindo ao Mateus ajuda para tal tarefa. Assim que estavam acabando de colher a última peça de roupa, Júlio sente um pingo grosso a bater-lhe na testa, e a seguir outro, e outro, e outro, e outro, até ao ponto de já estar a chover torrencialmente. Ambos fugiram para o abrigo que se situava ainda um pouco desviado da casa, onde esperava a Rita pelos dois homens. <o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Entretanto, enquanto ambos esperavam que a chuva amainasse, Mateus olhou para o pai que observava atentamente o céu na esperança de ver sinais de bonança.<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Pai...?”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Quié que queres?”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Tens saudades da mãe?”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Júlio, ouvindo esta palavras da boca do filho, pára de fitar o céu e olha para o filho, olhos nos olhos, cara à cara.<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">“Sinto filho. Sinto muitas...”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mateus até estranhou esta face do seu pai. Já nem reconhecia este seu lado requintado de calma, de simpatia, de carinho. Todo este momento fez com que remontasse logo aos tempos em que o pai levava toda a família a dar passeios junto ao mar, numa praia onde, com o por do sol, qualquer casal se perdia, porque enquanto o sol se punha fazia cada vez mais frio, justificando o facto de terem que se abraçar, não só para manter o calor dos corpos, mas também para confraternizar<b> </b>o amor entre ambos, ou seja, era como que se fosse o calor que aquecia o ferro, para que este pudesse ser moldado na forma mais perfeita, tendo como fim o amor sólido para toda a vida. <o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">De repente lembrou-se de um desses passeios. O sol já se estava a pôr e a família já procurava o regresso a casa. De repente, o pai olha para uma das casas, que mais se sobressaia entre as outras, e disse com um tom de afirmação: “Aquela ainda vai ser nossa casa! Vai ser ali que vamos fazer as nossas árvores de Natal. Vai ser ali que os nossos filhos vão crescer! Vai ser ali que vamos ser ainda mais felizes!”<o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">De forma espontânea estes pensamentos foram rompidos pelo aviso do pai de que o tempo já estava a amainar e que iam procurar a casa. <o:p></o:p></span></div><div style="line-height: 150%; margin: 0.1pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><br />
</div>Manel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6093637609799351545.post-84964778101560922212010-12-18T05:38:00.001-08:002010-12-19T20:39:09.283-08:00I<div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Porra!", berrou ele enquanto esfregava intensamente o pé que já estava a borbulhar devido à picada da urtiga. "Ainda nem andei metade daquilo que tenho que andar e já tou assim agarrado ao pé! Valha-me Deus!"</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Mateus era um jovem simples, mas sempre com o seu sorriso estampado na sua cara branca e com as bochechas sempre rosadas, fazendo lembrar um daqueles soldadinhos-de-chumbo. Sempre que tinha forma de fugir aos deveres, lá ia mostrar a sua forma atlética no campo de futebol lá da freguesia. Era simpático, mas humilde a cima de tudo. Era muito traquinas, mas sempre obediente ao pai. O pai mandava, ele fazia. </div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Andou todos os seus 16 anos descalço, nunca soube o que era sapatos. Vestia, diariamente, apenas uma camisola de flanela, que tinha as pequenas particularidades de ser axadrezada de cores azuis e vermelhas (as suas favoritas) e de ter um cheiro forte a estrume das suas cabras e bodes com que lidava diariamente, só lá no Inverno rigoroso o pai lhe dava um casaco que, como ele dizia, "mais parecia a ser uma saca de serapilheira com fecho", ou seja, ter ou não o ter era a mesma coisa... Não sentia vergonha da forma como andava, apesar de já estar no evoluído século XXI. </div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Muitas das vezes passava pela casa da senhora Ermelinda, que fazia uns bolinhos de limão de comer e chorar por mais, onde lá metia dois dedos de conversa com ela. No final, em tom de simpatia, lá ela dizia a ele: "Leva aqui estes bolinhos para ti e para a tua irmã, para cearem logo à noite antes de irem para a cama." No entanto, assim que virava a esquina, safado que era, abria o saco e lá devorava os pequenos bolinhos, enchendo a boca até não poder mais, só para não ter que chegar a casa e ficar sem eles por causa do pai.</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Oh Mateus!! Tá-me parecendo qu'o pau de marmeleiro vai aquecer mais qu'a aguardente de figo que emborquei esta manhã na tasca?!"</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Oh pai, este fardo de palha pesa muito nas minhas costas e já tou com os pés em bolhas por causa das urtigas..."</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Quero lá saber! Eu na tua idade carregava dois desses e ainda ia a correr pa casa, pa depois levar com a queda do sapato d'meu pai!"</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Ao contrário de Mateus, seu pai, Júlio, tinha a fama de fazer maratonas pelas tascas da freguesia a pedir fiado sempre por mais um ou dois copinhos de bebida, fosse ela aguardente ou whisky, tinha era de aquecer a cabeça. Tinha a sua cara constantemente avermelhada devido ao álcool e tinha uma estatura média, apesar de ser um pouco mais alto que o filho e não muito mais largo que ele. O problema é que estava sempre a gabar-se junto dos amigos das proezas que tinha feito e que era capaz de fazer só para se vangloriar perante o seu grupo de reunião nas tasquinhas. Porém. tinha uma grande beleza, os seus olhos; os olhos azuis vivos, que chamaram logo a atenção da sua já falecida mulher após um aparatoso acidente de viação. Daí ter vendido tudo o que lhe fazia lembrar a sua queria mulher e refugiar-se na bebida. Para Júlio, a vida já não fazia sentido. Nem mesmo os seus filhos faziam-no encontrar um rumo para a sua vida. Estava simplesmente entregue inexorabilidade do tempo.</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Entretanto Mateus já estava de novo de pé, já com o fardo de palha ás costas a correr para junto do seu pai que se encontrava no cima da colina. Passado algum tempo - isto já iam para as 7h da tarde - a noite já estava fechando sobre o brilhante dia de Verão que fez. Mateus foi dar de comer às galinhas e ao seu rebanho e, entretanto, deu-se de caras com um gato malhado de um amarelo torrado, que o fazia lembrar um dos vestidos que a sua mãe usava pelo domingo aquando ia à missa, e de um preto muito escuro. </div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Vem cá bichano q'eu na te faço mal... vem cá...", enquanto fazia um som com a boca, a fim de acalmar o animal. Este, vendo aquele estranho a aproximar-se de si, foge entre um bardo de mato que lá se encontrava perto. "Paciência que até os animais fogem de mim..." Sim, porque até as cabras, quando ele ia tratar delas, lhe davam cabeçadas, ficando até um dia com uma perna negra por causa de uma cabeçada. </div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">Vendo que o animal não tinha maneira de voltar para junto dele, levantou-se e fez-se ao caminho de casa. Mas, para seu azar, tropeça numa raiz de roca, que estava fora do alcance da vista dele, acabando por ficar estatelado no meio de chão, parecendo ser um avião prestes a levantar voo da pista. Ficou assim por uns bons 30 minutos, pensando de como o céu era lindo, de como as nuvens se estavam a mover rapidamente, de como o acidente, que levou a alma da sua mãe, se passou numa questão de segundos. Mil e uma coisas surgiram na sua mente jovem e viva. Mas, ao mesmo tempo, não queria pensar em nada, queria apenas puxar o ar fresco e cheiroso das flores que o rodeavam. Olhou para o lado e colheu uma flor de uma erva. Tinha pétalas amarelas. Encostou a flor ao seu nariz e puxou com tanta intensidade que fico com uma das pétalas enfiada numa das narinas que, consequentemente, fez com que desse um espirro ao ponto de assustar as galinhas que estavam empoleiradas nos galhos das árvores. </div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">"Ficava aqui té o sol nascer outra vez. Q'ria ser o primeiro a ouvir o cantar dos pardais e das galinhas. Sentir o passar da mão da minha mãe pelo cabelo, que me acalmava;que me fazia sentir seguro; que me fazia sentir amado... Porquié qu'as coisas tem d'ser assim? Porquié? É tão injusto ele ter matado a minha mãe e, no entanto, tar a respirar o ar que podia; que devia pertencer à minha mãe! É tão injusto! Mais que nunca duvido que Tu realmente exististes... Tu que dizes ser justo para com todos, mas simplesmente ficas aí no céu à espera das almas que tanto sofreram sobre a tua custódia. Sim...Tu..."</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;"><br />
</div><div style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif; text-align: justify;">... </div><div style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"> </span></div>Manel Silveirahttp://www.blogger.com/profile/04130128152644175595noreply@blogger.com2